O Hospital Municipal Ruth Cardoso (HMRC), de Balneário Camboriú, é o hospital catarinense com a menor taxa de negativa familiar para doação de órgãos. No ano passado, o HMRC fez 19 diagnósticos de morte encefálica e apenas três famílias negaram a doação, enquanto as outras 14 disseram sim à captação de órgãos.
“Esses números impressionam, já que o HMRC é um hospital municipal de média complexidade custeado em sua grande maioria pelo município. Mostra a seriedade do trabalho que está sendo desenvolvido por toda a equipe”, falou o prefeito, Fabrício Oliveira.
“Não temos grandes tecnologias, mas temos uma UTI adulto que conta com profissionais extremamente competentes e uma equipe da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) empenhada em assistir os familiares dos possíveis doadores”, disse o coordenador médico e responsável técnico da UTI, César Meirelles.
Também houve um crescimento na captação de órgãos de 2016 para 2017. Em 2016 foram 14 notificações de morte encefálica e 9 doações (60% de autorização). Já em 2017 foram 19 notificações e 14 doações (74% de autorização). O índice de Balneário Camboriú é melhor que a média nacional, onde a negativa familiar para doação de órgãos foi de 43% em 2016.
Dos 16 casos confirmados de morte encefálica de 2017, a grande maioria foi causada por AVC (acidente vascular cerebral) e TCE (trauma crânio encefálico). Em 2018, a primeira captação realizada pelo Ruth Cardoso ocorreu no dia 05 de janeiro. Foram doados rins, fígado e córnea. “O HMRC está fazendo mais diagnósticos e conseguindo captar mais órgãos, colaborando para a redução da fila de espera no estado e no país.
Sobre o processo de abordagem das famílias:
O HMRC e os hospitais que lidam com a doação de órgãos possuem profissionais que fazem parte da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT). Essa equipe é formada, no Ruth Cardoso, por um médico e quatro enfermeiros. Esses profissionais são responsáveis pela busca ativa de possíveis doadores. O possível doador é aquele paciente que tem uma lesão neurológica grave e está respirando com a ajuda de aparelhos (em ventilação mecânica).
Um dos diferenciais do hospital é o acolhimento dado às famílias durante todo o tratamento do paciente. “Eles participam de toda etapa do tratamento, a equipe sempre conversa com eles sobre o que está sendo feito e sobre o quadro real do paciente e a gravidade, tornamos os horários das visitas mais flexíveis para que os familiares possam estar junto do paciente em diferentes momentos. Então, quando ocorre do paciente vir a óbito, os familiares sabem que foi feito tudo o que podia para salvar a vida dele e que a doação é uma forma de ajudar outras pessoas”, contou o coordenador da enfermagem da UTI, Grey Robson Felippi.
Durante toda a internação, a equipe acompanha as famílias, orientando e respondendo a todos os eventuais questionamentos que surgirem durante o processo. A doação de órgãos só é abordada após a equipe médica confirmar o diagnóstico final de morte encefálica (equipe essa que não tem relação nenhuma com a CIHDOTT. “Geralmente, nessa conferência familiar, estão presentes o médico assistente, um enfermeiro pertencente à equipe da CIHDOTT, o psicólogo e a assistente social”, explicou Grey.
Sobre a doação de órgãos:
Um doador pode doar coração, dois pulmões, dois rins, fígado, tecido ocular, pâncreas, válvulas cardíacas, pele e tecido ósseo. A maioria dos doadores tem entre 50 e 64 anos e, ao contrário do que se pensa, a idade avançada não é uma contraindicação à doação. Grande parte dos órgãos doados ficam em Santa Catarina, mas cerca de 25% são enviados para outros estados, como o Rio Grande do Sul e São Paulo. Em Santa Catarina, o Hospital Santa Isabel é o que faz mais transplantes: até novembro de 2017 o hospital realizou mais de 250 transplantes, grande parte deles de fígado e rins.