O escritor Marcos Laffin tomou posse na noite desta quinta-feira, 10 de março, na cadeira número 9 da Academia Catarinense de Letras. Natural de Jaraguá do Sul, residiu muitos anos em Joinville e desde 1997 fixou residência em Florianópolis. Até 2017 foi professor do departamento de contabilidade da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), especializado em contabilidade gerencial e doutorado em engenharia de produção e pós-doutorado em contabilidade sempre participou de diversos grupos de estudo de poesia e foi um dos fundadores do Grupo de Poetas Zaragata de Joinville. A solenidade foi realizada no Clube do Cinema Gilberto Gerlach, no CIC, em função das obras de reformas da Casa José Boiteux.
Em seu discurso, o novo “imortal” destacou que, dentre seus objetivos junto a ACL, está a sensibilidade em defesa e construção da cultura e a interlocução da arte com o mundo real. “Espero, nesta ACL com a companhia de cada um de seus acadêmicos e acadêmicas, sejamos espelhos refletindo – a cultura da terra nossa de cada dia. E mais, faço um registro sobre os momentos de extrema demência que o mundo assiste, vive e não reage, na Guerra provocada pela Rússia. Anunciar e promover uma guerra é uma ação de perda da humanidade que nos faz indagar: Qual vida tem valor? Que ação precisamos realizar além da resistência? Sabemos que a palavra constrói o diálogo, mas o diálogo dessa guerra está submisso a dependência econômica. Não há democracia e nem civilização quando o outro é arrancado de sua terra e por ela é assassinado. O diálogo que o mundo econômico compreende é a diálogo mediado pela moeda como mercadoria. Nenhuma moeda, nenhum rubro terá descanso e valor. O mundo, as nações e os organismos internacionais estão em esclerose da sensibilidade. E nós, ao silenciarmos no absurdo da guerra também morremos”, destacou.
Em toda sua vida profissional, apesar de imerso no mundo das ciências sociais-aplicadas, nunca se afastou do universo literário. “A literatura é um lugar de inflexão dentro do universo da racionalidade”, comenta o escritor. Laffin destaca que sempre há uma história a ser contada sobre as coisas que estão no mundo e de como acontecem ou se apresentam em nossas vidas. “Tive o primeiro contato com a literatura na escola primária. Depois desse encontro, fluíram muitas leituras, discussões, e muitas aprendizagens. A leitura de diferentes textos ou tipologias textuais está sempre presente. Na infância eu lia muito. Morava no interior, onde o tempo se alongava mais e onde existiam poucas atividades culturais. Logo, a leitura era uma forma de devorar o tempo”.
Após sua aposentadoria, o escritor passou a dedicar-se inteiramente à produção literária. A eleição para a Academia Catarinense de Letras faz parte de seu projeto de vida. “Ter sido eleito para ocupar a cadeira 9 da ACL tem muitos significados. Um deles diz respeito às responsabilidades que devem ser assumidas com as disposições Estatutárias e Regimentais da academia. Destaco que a ACL completou em 2020, 100 anos de fundação. Portanto, as responsabilidades vão para além das normas, mas que juntas devem nos permitir manter e elevar a memória e a produção de seus fundadores e dos sucessores. São compromissos assumidos junto à história das pessoas, com os fatos, com a língua vernácula, com a literatura, com a arte e com a cultura, processos iniciados e desenvolvidos nesses 101 anos” da Academia, comenta.
O escritor destaca ainda que um significado especial e em particular para ele, da eleição, diz respeito ao mérito da literatura até aqui produzida e socializada ao universo de leitores. “Ao iniciar a minha participação nas atividades da ACL, diz respeito as atividades coletivas da ACL e da continuidade com a escrita, com o imaginário, com a realidade e com as dimensões do alcance social, político e cultural da produção escrita. Como me disse Lauro Junkes (em memória) “a vitalidade da linguagem impõe abertura para todas as realidades”, portanto, a vida da linguagem em gêneros literários coloca em movimento a presença do leitor para dar cumplicidade a uma das maneiras de compreender o mundo e os movimentos em suas realidades. Portanto, estar inteiro no momento presente e nas terrenalidades do mundo, assim como na presença das memórias dos ontens é imprescindível para dar vida às linguagens. Certamente estou ciente de que muitos outros significados irão se impor na companhia dos Acadêmicos da Academia Catarinense de Letras”.
Laffin sucede o professor, escritor e ex-reitor da Udesc, João Nicolau Carvalho ocupante da Cadeira 9 e que faleceu em março de 2021. A cadeira 9 teve como Patrono, Feliciano Nunes Pires, e seus sucessores são, Anfilóquio de Carvalho Gonçalves, Ivens Bastos de Araújo, Martinho José Calado Júnior e João Nicolau Carvalho. Com referência aos acadêmicos que ocuparam a cadeira 9 destaca que “cabe guardar o contexto histórico, político e sociocultural, a precedência e a hierarquia dos desafios, das produções e das contribuições para o desenvolvimento da vida dos catarinenses”; ressaltou o novo acadêmico da ACL.