O surfista Elias “Figue” Diel se consagrou campeão brasileiro de surf adaptado. Figue é cego e liderou as baterias da categoria “Deficiente Visual”, mesma modalidade em que levou o ouro no mundial no ano passado. A competição foi realizada na praia de Maracaípe (PE), entre os dias 16 e 18 de setembro. A primeira colocação garantiu a vaga do atleta no time brasileiro que embarca para o ISA World Para (Adaptive) Surfing Championship, em dezembro, na Califórnia (EUA).
O “CBSurf Maracaípe Surf Adaptado” foi um evento inédito e entrou para a história do surf nacional. Essa é a primeira seletiva organizada pela Confederação Brasileira de Surf (CBSurf) para classificar os atletas que representarão o Brasil no Mundial de Parasurf, em dezembro.
Figue disputou a vaga contra o adversário Derek Rebelo, surfista cego de Florianópolis (SC). Somou as melhores pontuações nas primeiras baterias e subiu ao pódio em primeiro lugar, ao lado do surfista e guia Bruno Barbieri, que o acompanha no mar.
“É emocionante subir no pódio rodeado de grandes surfistas e amigos, que se dedicam para dar a visibilidade merecida ao surf como um esporte acessível e além de limitações”. O parasurf ou surf adaptado ainda caminha para se consolidar a nível nacional e internacional, conquistando espaço e popularização além da inclusão. Ainda esse ano, em junho, o atleta de Balneário Camboriú conquistou o primeiro lugar durante o Hawaii Adaptive Surfing Championships, em Waikiki, no Havaí (EUA).
Foram classificados para representar o Brasil na competição mundial os parasurfistas Francisco Sampaio (PS- Knee Masculino), Marçal da Costa (Prone 1 Masculino), Monique Oliveira (Prone 2 Feminino), Davi Teixeira (Prone 2 Masculino), Tiana Dantas (S1 Feminino), Roberto Pino (S1 Masculino), Malu Mendes (S2 Feminino), Rafael Luerdes (S2 Masculino), Alcino Neto (S3 Masculino), Fellipe Kizu Lima (Sit Masculino), Figue Diel (VI1 Masculino) e Miguel Flávio (VI2 Masculino).
Além do desempenho e dedicação individual para os treinos, Figue tem o apoio de grandes marcas de Santa Catarina que incentivam o parasurf: Lora Surfboards, Santacosta, Oceanic Aquarium, Portonave, Fundação Municipal de Esportes de Balneário Camboriú, Rockfeller Balneário Camboriú e Ashvatta Saúde Integrativa.
Conheça um pouco sobre a história de Figue
Figue perdeu a visão aos 16 anos após um acidente de carro. As lesões nos olhos, causadas pelos fragmentos do vidro do pára-brisa, levaram à cegueira total. O jovem gaúcho que surfava em Torres (RS) desde moleque sofreu ao deixar de ver as ondas.
Procurou nos esportes uma maneira de seguir acreditando que a vida é o nosso maior presente. Figue é faixa preta em jiu-jitsu e escalador de rochas, considerado como o primeiro deficiente visual a escalar no Yosemite National Park, na Califórnia.
Descobriu o yoga em 1998, quando começou a praticar Hatha Yoga. Hoje é professor e ministrante de palestras sobre a importância da prática na busca do equilíbrio pessoal. “A felicidade pode ser vivida e experienciada por cada um de nós, agora. Porque é exatamente o que todos nós somos: felicidade”.
A maturidade e o autoconhecimento físico, mental e intelectual proporcionaram algo que antes parecia impossível: voltou a surfar sem a visão, a sentir a onda. Reencontrou no surf a fonte da juventude e de inspiração para continuar com o sorriso no rosto. Viajou para o Chile, Peru, Califórnia, El Salvador, Costa Rica, Cabo Verde, Havaí e Indonésia em busca das ondas perfeitas.
Se consagrou Campeão Mundial de Parasurf em 2021, durante o ISA World Para Surfing Championship, na Califórnia. Participou das edições de 2016, 2017, 2018 e 2020, conquistando três vezes o vice-campeonato. Em 2022 ficou em primeiro lugar no Hawaii Adaptive Surfing Championships, na etapa inaugural do Circuito Mundial de Parasurf Profissional.