O bom funcionamento da rede coletora de esgoto também depende da contribuição dos cidadãos. O descarte de resíduos nas ruas e jogados na rede, causam entupimentos, obstruções em poços de visita e o extravasamento de esgoto nas ruas, ocasionando o retorno dos efluentes para dentro das residências. Além disso, os materiais podem dificultar e danificar o sistema de coleta e tratamento dos efluentes.
Entre os grandes vilões dos entupimentos da rede de esgoto, além do óleo de cozinha e o papel higiênico que é jogado nos vasos sanitários, por exemplo, está o descarte de restos da construção civil de forma inapropriada, que interferem diretamente no processo de tratamento de esgoto. Durante a manutenção preventiva da rede, realizada periodicamente pela Empresa de Água e Saneamento (EMASA), justamente para evitar problemas e garantir o bom funcionamento da mesma, são retirados com frequência restos de tijolos, concreto, pedregulhos, argamassa e outros restos da construção civil, assim como resquícios de tintas e solventes.
“Os maiores vilões são o cal, gesso, cimento, pedra e areia. Na maioria das vezes, esses materiais são lançados na rede quando os equipamentos e ferramentas são lavados no canteiro de obras. Desta forma, os resíduos se acumulam na rede e acabam se solidificando, reduzindo a seção da tubulação gradativamente, até a obstrução total”, explica o engenheiro do departamento de Manutenção de Esgoto da EMASA, Erivan James Rodrigues, mencionando a importância de seguir com rigor as normas para controle de canteiro de obras, com locais específicos para limpeza de ferramentas e equipamentos.
Além das limpezas preventivas, são realizadas ao mês cerca de três a quatro desobstruções na rede devido aos resíduos de construção, através da limpeza com jatos de alta pressão. Mas, em casos mais graves, quando há obstrução total ou as mangueiras de alta pressão não são suficientes, é necessário realizar uma intervenção. “Nestes casos os transtornos são maiores, pois o trabalho envolve escavação, troca da tubulação, reaterro e recomposição do pavimento, sem contar que pode afetar o trânsito no local”, menciona o diretor-geral da Emasa, Douglas Costa Beber, destacando que é de extrema importância que a população entenda as consequências geradas pelo descarte irregular “e todos os transtornos, como abertura de buracos e até gastos adicionais que podem ser evitados”, aponta.
Outra situação que parece inofensiva, mas causa diversos problemas tanto na tubulação, quanto no sistema de tratamento é o despejo do entulho classificado como “Classe D”, ou seja, as tintas, solventes, óleo, metais pesados, derivados de petróleo e outras substâncias químicas. De acordo com o analista Químico do departamento de Qualidade de Esgoto, Caio Cardinali, estes materiais considerados resíduos perigosos, acabam matando a biomassa responsável pelo tratamento do esgoto. “O esgoto é tratado por processos biológicos que possibilitam a remoção das impurezas. O descarte irregular pode ser tóxico para o processo natural, afetando consideravelmente a eficiência do tratamento de esgoto”.
Por isso, a Emasa reforça que apenas as medidas preventivas adotadas pelo poder público, não são suficientes para manter o pleno funcionamento da rede. Para reduzir os impactos negativos, a população deve utilizar o sistema de tratamento de esgoto com responsabilidade, considerando os benefícios ao meio ambiente, o bem-estar da população e a saúde pública.